quinta-feira, 12 de junho de 2014

#Ser ou não ser Vira-Latas, eis a questão.

O histórico complexo de vira-latas por parte de alguns brasileiros.


Por: Nito Costa.

Eis a verdade, amigos: — desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2 x 1[...]. A pura, a santa verdade é a seguinte: — qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma: — temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “complexo de vira-latas”. (RODRIGUES, Nelson. “À sombra das chuteiras imortais”. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p.51-52: Complexo de vira-latas).


     O "complexo de vira-latas" é uma expressão criada pelo dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues. O significado desta expressão vem do trauma sofrido pelos brasileiros na Copa do Mundo em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia em pleno Maracanã.  Entretanto, para Nelson Rodrigues, o "complexo de vira-latas" também é uma crença de inferioridade de uma parte dos brasileiros em relação ao resto do mundo.


     Em suma, este complexo leva a um desprezo para tudo que for Made in Brazil, e por toda cultura tupiniquim. Digo que, constantemente, este complexo de vira-latas do brasileiro é verbalizado em frases ouvidas em filas de bancos, no transporte coletivo e nas instituições publicas. Frases essas: “nos Estados Unidos não acontece isso”, “no Japão já tem, e tão cedo não chegara ao Brasil”, “na Europa é diferente porque lá é primeiro mundo”, “neste país nada funciona”, “o Brasil é o país da corrupção”, “esse país nunca vai pra frente...” - ou, como diz a musica: “se eu fosse americano minha vida não seria assim”, entre tantas outras perolas do senso-comum. O fato é que muita das vezes estes brasileiros sequer conhecem a história e a cultura dos países ao qual defendem, apenas reproduzem em modo stand by essas máximas.

     O Brasil não é um país de economia fechada, como se deu em alguns países, sobre tudo no século XX. A prática de se fechar para o mundo, em termos econômicos, políticos e culturais se mostrou uma experiência catastrófica para a população menos favorecida. A maioria dos problemas que, nós, os brasileiros, ainda enfrentamos estão intrinsecamente ligados à fase superior do capitalismo, sendo esta, denominada por Vladimir Lênin, de o Imperialismo. Acharmos que somos uma “ilha” neste sistema de coisas e que só no Brasil se tem problemas sociais e políticos é, de fato, se enquadrar no "complexo de vira-latas" idealizado por Nelson Rodrigues.

     Contudo, o Brasil é um exemplo para o mundo no combate à pobreza, e também em outras áreas. Hoje, este mesmo capitalismo, citado acima, esta vivendo uma de suas maiores crises, e o Brasil está mantendo um recorde de empregos – agora temos que lutar por melhores condições de trabalho e por uma carga horária justa, ao qual o trabalhador possa gozar de tempo para cultura, lazer e família! E, dentro desta realidade, o país ainda esta distribuindo renda, reduzindo a desigualdade e crescendo. Cabe ao brasileiro, que tem “complexo de esperança”, sair da sua zona de conforto e participar deste crescimento, pois, “nunca antes na historia deste país” se teve tantas condições para tanto.

     Recentemente, os novos jovens brasileiros tomaram as avenidas e as praças das pequenas e grandes cidades do país em uma revolta generalizada contra tudo e contra todos. As Jornadas de Junho de 2013 defendiam - e ainda defendem - melhores condições de vida e colocam em cheque a democracia liberal-burguesa do país. Vejo estas manifestações de forma legitima e oportuna, visto a realização da Copa do Mundo da FIFA 2014 no Brasil, onde os olhos do mundo estão mais ainda direcionados sobre as terras de Nelson Rodrigues. Ou seja, vivemos um momento histórico na nova historia brasileira. Este novo momento fez surgir grupos contrários ao evento da FIFA no Brasil e propagou a mensagem do ano: “não vai ter Copa!”.

     Hoje, 12 de junho de 2014, o Brasil faz a abertura da Copa do Mundo na Arena Corinthians em Itaquera, zona leste da cidade de São Paulo, em um jogo entre o Brasil e a Croácia. Esta abertura acontece mesmo com vários grupos contrários a Copa do Mundo no “país do futebol”, mostrando assim, uma maior conscientização do brasileiro em relação as suas maiores necessidades – o que é positivo. O reflexo desta conscientização se mostrou em meados de 2013 em uma reportagem do  jornal alemão Zeit. Em relação as Jornadas de Junho no Brasil a matéria destacou: "Finalmente uma democracia se levanta contra a Fifa, uma entidade antidemocrática. Os protestos (no Brasil) atestam a maturidade democrática de um País que foi governado por generais por 30 anos". 

     Porem, como podemos observar o movimento institucionalizado “vai ter Copa” acabou se concretizando.  Agora, como bons brasileiros, nos resta torcer sim pelo Hexa - por que não? E cobrar da iniciativa privado todo dinheiro publico investido neste grande evento esportivo. Mas, se ainda tem brasileiro que se questiona, dentre tantos boatos, se a Copa do Mundo vai ser boa para o Brasil? Sugiro que assista ao vídeo a seguir, que, mesmo sendo institucional, é bem esclarecedor sobre os gastos da Copa no Brasil. Click no link: A Copa do Mundo vai ser boa para o Brasil?

     O Brasil tem um extenso histórico de manifestações populares que levaram a construção desta nossa democracia (democracia liberal-burguesa). Hoje em dia vivenciamos um momento de amadurecimento em termos de manifestações populares, temos que fazer disso um ponto inicial para grandes mudanças, contudo, sem jamais esquecer o que já foi feito dentro desta luta democrática. Nesta perspectiva, ainda observo diversos jovens que se julgam pensar “fora da caixa”, mas inconscientemente são contaminados pelas ideologias da classe dominante histórica e conservadora, e acabam, constantemente, repetindo os discursos das mídias de massas, estes sim precisam acordar e florescer neste novo renascimento social, direcionando as suas revoltas e não só ficando no campo da critica pela critica e sim apresentado novos rumos, novas ideias, e fazendo vir à luz a esperança de tempos melhores, seja para o Brasil, seja paro o mundo.

     Voltando ao "complexo de vira-latas", interiorizado em alguns brasileiros, acredito que estes ainda existem, e sempre vão existir, é como se fosse uma praga, não tem jeito! Porem, ainda há aqueles que, mesmo sendo vistos como tolos, acreditam e trabalham para melhorar as realidades brasileiras.

    
     No mais, quero que as ruas e avenidas continuem a tremer sob os passos dos brasileiros que carregam o “complexo de esperança” na busca por uma sociedade mais participativa, justa e igualitária! Lutando por Educação e Saúde publica padrão Brasil, por Segurança e Lazer padrão Brasil, e torcendo pelo Hexa campeonato para a Seleção Brasileira de Futebol, - seja em 2014 ou em outras Copas -, pois ainda somos brasileiros e não desistimos nunca!



#VIVA o BRASIL!


Segue o Documentário “O Complexo de Vira-latas” (Brasil, 2014, 24 min - Direção: Leandro Caproni).





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